Você sabe o cuidado necessário que se deve ter com a Palavra celebrada?
No conjunto da missão da Igreja, a liturgia ocupa o lugar central. Porém, ela não esgota toda ação da Igreja, que se expressa também, na ação evangelizadora e caritativa. A importância da liturgia, segundo lembra a Sacrosanctum Concilium, consiste principalmente na presença constante do Senhor em sua Igreja, sobretudo nas ações litúrgicas. Uma das formas privilegiadas e reais desta presença é a Liturgia da Palavra.
Isto porque, “é Ele mesmo que fala quando se leem as Sagradas Escrituras da Igreja”. O Elenco das Leituras da Missa recorda que a Palavra de Deus, sempre viva e eficaz pelo poder do Espírito Santo, constrói, faz crescer, fortalece e envia à Igreja, e esta, proclama os mistérios da salvação.
- A Palavra de Deus ocupa de fato um lugar de destaque em nossas celebrações?
- Que ações simbólicas e rituais acompanham a Liturgia da Palavra?
- O que elas transmitem ou deixam de transmitir?
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O momento privilegiado!
A Liturgia deveria ser um momento privilegiado, no qual, por meio de ação simbólica e ritual, seja possível perceber a presença viva do Ressuscitado. Portanto, assim como o percebia a comunidade joanina: “o que ouvimos, o que vimos, o que contemplamos, e o que nossas mãos apalparam do Verbo da vida […] vo-lo anunciamos” (1Jo 1, 1.3).
A Liturgia da Palavra é um momento privilegiado do encontro ritual com o Verbo. O rito faz parte integrante da dinâmica da celebração cristã. Nela se entrelaçam três elementos fundamentais que dela fazem parte:
- O mistério celebrado (Mistério Pascal);
- A expressão visível e sensível deste mistério por meio da ritualidade;
- A comunhão que esta relação cria.
Assim, primeiramente, a Liturgia da Palavra é marcada pela presença do Verbo, que “hoje” fala ao seu povo e anuncia a sua salvação, que foi realizada uma vez por todas no passado, “naquele tempo”, mas é atualizada, no presente da Igreja e do mundo. Em segundo momento, a Liturgia da Palavra desenvolve-se na dinâmica ritual da proclamação – escuta – resposta. Por fim, a Liturgia da Palavra manifesta à sociedade/comunidade convocada e reunida, para o encontro com o Senhor, que a alimenta e envia em missão.
Dessa forma, a partir destes elementos apresentamos aqui algumas propostas e sugestões de cunho ritual para uma mais cuidadosa e frutuosa celebração da Liturgia da Palavra em nossas comunidades.
- Valorizar ao máximo a íntima relação entre a Liturgia da Palavra e a Liturgia Sacramental. Isto porque, a Palavra divina que na Igreja é lida e anunciada na liturgia, conduz à ação sacramental, própria a cada sacramento. O mesmo vale para os sacramentais, para a Liturgia das Horas e para a relação da Palavra com os piedosos exercícios do povo. Na relação entre Palavra e gesto sacramental, mostra-se de forma litúrgica, como lembra o Papa Bento XVI, o agir próprio de Deus na história, por meio do caráter performático da Palavra, onda não há separação entre o que Deus diz e faz.
- Difundir nas comunidades as Celebrações da Palavra de Deus. Elas são ocasiões privilegiadas de encontro com o Senhor, ao longo do Ano Litúrgico. Nestas celebrações, o Cristo se faz verdadeiramente presente, pois é Ele mesmo que fala quando se lê, na Igreja, a Sagrada Escritura.
- Criar e fomentar a atitude de atenta escuta da Palavra de Deus. A Liturgia constitui o âmbito privilegiado onde Deus fala no momento presente ao seu povo, e este, atentamente, O escuta e a Ele responde. As leituras, segundo indicações litúrgicas, destinam-se a ser escutadas e depois meditadas, em oração. Esta exigência teológica de escuta opõe-se frontalmente ao uso (e abuso) de folhetos na Liturgia da Palavra em muitas de nossas assembleias.
- Valorizar o ministério do leitorado e do salmista. Isto porque, a escuta supõe a primorosa proclamação da Palavra de Deus. Por isso, o leitor é instituído para servir à Palavra, proclamando-a no culto e fazendo-a mais conhecida. Para que isso aconteça, os leitores devem possuir uma adequada formação bíblica, litúrgica e técnica, além da consciência de existência de diversos gêneros literários utilizados pelos escritores sagrados. Quanto ao salmo responsorial, deve ser evitada melodia demasiadamente complicada, especialmente nos refrões repetidos pela assembleia.
- Utilizar o ambão como lugar litúrgico próprio de onde se proclama a Palavra de Deus. Ele deve expressar, por meio de nobre simplicidade, a dignidade da Palavra de Deus, comparável à mesa da Eucaristia. Por isso, deve se cuidar para que existam harmonia e unidade interna entre as duas mesas que alimentam a espiritualidade cristã. No ambão são proclamadas as leituras, canta-se o salmo responsorial, elevam-se as preces da comunidade e cantam-se as sequências. Ele deve ser colocado em lugar bem visível, para onde se dirija espontaneamente a atenção dos fiéis durante a Liturgia da Palavra. Será que o uso de folhetos garante tal atitude?
- Servir-se de Lecionários e do Evangeliário para a proclamação da Palavra de Deus. Por causa da dignidade da Palavra, os livros para anunciar a Palavra do Senhor nas celebrações precisam ser dignos, decorosos e belos. Estes “sempre foram cercados de especial veneração e trabalhados com arte esmerada por conterem a Palavra de Deus. Proclamá-la lendo folhetos, não expressa a dignidade da Palavra e o apreço que por ela devemos ter. Urge reintroduzir em nossas celebrações o uso dos Lecionários ou ao menos da Bíblia, para que possamos melhor sentir e expressar o apreço por Deus, que nos fala” (CNBB, Doc. 43).
- Solenizar a proclamação da Palavra de Deus, especialmente do Evangelho, utilizando o Evangeliário e os ritos e sinais próprios que o acompanham. A Igreja reconhece assim, que a leitura do Evangelho constitui o ápice da própria liturgia da Palavra. Os ritos supõem a presença de um Evangeliário um tanto belo e digno de veneração para poder ser levado em procissão, colocado sobre o altar, iluminado, incensado, beijado e apresentado ao povo, assim como é apresentado o Corpo e o Sangue do Senhor. O ritual concede uma preeminência ao Evangelho enquanto revela imediatamente a presença do Cristo como centro das Sagradas Escrituras.
- Valorizar o silêncio para a recepção da Palavra de Deus. O silêncio pode ser considerado como parte da celebração. Segundo o Papa Bento XVI, “a palavra pode ser pronunciada e ouvida apenas no silêncio, exterior e interior”. Para que isso aconteça é preciso educar e reeducar a assembleia para tal atitude e postura.
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Esperamos, que esta breve reflexão a partir de alguns elementos simbólicos e rituais presentes na Liturgia da Palavra, contribua para que as nossas celebrações sejam bem preparadas e celebradas com fé e esmero. Assim, todos os que dela participarem não só poderão vivenciar a experiência transformadora do encontro com a Palavra, mas também, por ela alimentados, poderão efetivamente evangelizar, a fim de que todos tenham a Vida (cf. Jo 10,10).